quinta-feira, 30 de maio de 2013

6˚ DIA – TIRADENTES

Chegamos a Tiradentes.
Nem sempre se chamou a sim. E Joaquim José também não nasceu aqui, mas sim em um distrito próximo. Antes era Vila de S. José, entre outros nomes. Também passou pelo ciclo do ouro – e como foi rica. O ouro nestas bandas era de superfície e fácil de ser extraído. E foi muito rica, depois caiu no esquecimento. Passou muito tempo esquecida até que voltou ao cenário tornando-se um polo gastronômico e de compras.



É uma cidade pequena, porém charmosa e simpática. Aqui chegando fomos ao escritório de turismo onde pegamos todas as informações necessárias. Como era segunda-feira, muita coisa estava fechada. O centro histórico se compõe do Largo das Forras e algumas ruas onde se espalham as lojas e restaurantes e alguns hotéis. Muitos restaurantes só abrem a partir de quarta-feira.


Nos hospedamos na Pousada D. Quixote, que fica próxima ao Centro Histórico, mas não exatamente nele. É um prédio grande e novo, com visual mais moderno, destoando do resto da cidade, embora seja decorado em estilo colonial mineiro.

















Ali nos deram todas as informações a respeito do que fazer, complementadas por mais informações que pegamos na Secretaria de Turismo.
Já caminhamos pelas ruas, sentimos um pouco do “astral” da cidade. Por todo lado sente-se aquele ar de coisa antiga preservada... o chão é de pedra, irregular, ladeiras. Casas antigas bem conservadas.




O estilo colonial predomina, misturado com o barroco mineiro. Já não se vê sobrados como em Ouro Preto – as casas são de um só piso, sem tantas varandas.  








Optamos por jantar no restaurante “Atrás da Matriz” – onde degustamos uma deliciosa truta. Não tínhamos muitas opções, mas essa foi acertada.
Definimos que iríamos começar nosso “tour” na manha do dia seguinte com um passeio chamado “Becos e bosques” montado por uma agencia local, no qual um guia nos levaria por becos e bosques contando toda a história da cidade, desde o seu auge no ciclo aurífero, passando pela Inconfidência, até os dias atuais.




Foi uma “bola dentro”. Em tempos de baixa estação, o tour era “privê”, e lá fomos nós com nosso guia. Andamos por toda a cidade, no nosso ritmo, e ficamos conhecendo toda a história de Tiradentes.











Batemos fotos, perguntamos, vimos locais pitorescos e definimos o que iríamos ver depois. 
Passamos pelo Chafariz de S. José, com seus 3 lados – onde as lavadeiras lavavam roupas, onde os cavalos bebiam água e onde as pessoas bebiam água. 








Ao lado, a subida para o Bosque Mãe d`Água, de onde é possível iniciar uma caminhada e onde se vê muita mata nativa.

























Passamos pelas principais igrejas da cidade, cada uma com sua história – a Matriz de Sto. Antonio, com 450 kg de ouro,
 

a do Rosário, construída pelos negros. 

Andamos pelos becos, por onde os escravos andavam, pois não podiam andar pelas ruas normais da cidade. Aprendemos o significado de algumas expressões usadas hoje em dia, como por exemplo, “lavar a égua”, que era o escravo que lavava a égua que trazia as pepitas de ouro escondidas no pelo e se dava bem por isso, “nas coxas”, os escravos moldavam as telhas das coxas, e outras mais...
Almoçamos no restaurante “Ora pro nobis” e comemos um delicioso leitão a pururuca  acompanhado de quitutes da culinária mineira, inclusive a folha ora pro nobis, que parece um espinafre, e servia de alimento dos escravos.



Depois disso, fui às compras de algumas coisinhas para casa e à noite, como ainda estávamos cheios de tanto leitão, fomos de sopinha mesmo.
Alguns passeios típicos da cidade, como o trenzinho até S. João d’el Rey, o passeio de charrete ou de van pela cidade à noite, só acontecem aos fins de semana, e estávamos em plena terça-feira.
Só conseguimos entrar na Matriz – a igreja, embora precise de uma restauração e limpeza das esculturas douradas, é ricamente decorada com esculturas em madeira e douradas ou policromadas. Muito linda. Um contraste e antagonismo com a pregação da Igreja em favor dos pobres. Mas retrata muito bem a cultura de então! As demais igrejas estavam fechadas, ou em reforma.
A cidade tem muitas lojinhas de artesanato em madeira, ferro batido, pedra sabão, todas explorando o artesanato mineiro. Os preços são aceitáveis e pode-se barganhar.
Nos últimos anos Tiradentes ganhou destaque como polo de gastronomia e, em agosto, há um festival gastronômico. Há vários restaurantes estrelados e premiados por guias. E também bem caros!!! Até incompatíveis com o padrão local. A cidade também tem vários eventos ao longo do ano com encontro de motos, festival de cinema etc...
Atrações em Tiradentes:
1.      Circular pelas ruas históricas:
a.      Chafariz de S. José
b.      Igreja N Sra Rosario
c.       Igreja N Sra Merces (fechada p/ reforma)
d.      Matriz Sto Antonio
e.      Rua Direita e Rua da Camara – lojinhas de artesanato
f. Largo das forras – praça central
g.      Casa da Camara
h.      Museu de Padre Toledo (Inconfidentes)
2.      Passeio pela Estrada Real até o distrito de Bichinho
3.      Serra de S. José - caminhadas
4.      Bosque Mae D’água
5.      Passeio de Charrete; passeio de Maria Fumaça até S. João; Passeio de jardineira
Em vários pontos há estátuas de  Tiradentes, uma delas até irreconhecível para nós que sempre temos a ideia dele naquela longa bata branca com longos cabelos e barba.




A estátua é dos seus tempos de alferes – com a farda. Joaquim José era de família abastada e possuía terras e escravos. Devido às suas idas ao RJ  havia tido contato com as novas ideias de liberdade e iluminismo vindas da Europa, daí sua participação no movimento dos Inconfidentes. Enquanto seus companheiros nunca confessaram sua participação, por isso não terem sido executados, e sim deportados, Tiradentes foi o único que assumiu sua culpa e por isso foi punido exemplarmente – enforcado no RJ, esquartejado, e partes do seu corpo espalhadas pelas cidades de MG para servir de exemplo. Acho que pouco se sabe e pouco se valoriza nosso herói da Inconfidência Mineira.
Bom, viajar também é cultura.... e assim se foi mais um capítulo das nossas incursões pelas Terras brasilis.

Até a próxima!

5˚ DIA – OURO PRETO

Hoje saímos para completar nosso roteiro. Os horários de abertura das atrações não ajudam a montar um percurso lógico tendo em vista a distância e, principalmente, as ladeiras, para o deslocamento.
As ladeiras são tão íngremes que as calçadas têm escadas caso contrário seria impossível subir ou descer. Até de carro é difícil. As ruas são tão estreitas que às vezes duvidamos que o carro vá caber nelas.  Mas conseguimos passar e circular e chegar aos pontos principais.
Começamos subindo ao Mirante do Morro de São Sebastião de onde se descortina toda  a cidade. Dali é possível se ver todo o desnível e as principais igrejas.

 

 














Fomos então à Igreja de São Francisco de Assis, obra barroca importante de Aleijadinho e Mestre Ataíde. À frente uma portada em pedra sabão esculpida com  S. Francisco. Lá dentro altares ricamente trabalhados em madeira policromada e dourada.


Um fato interessante por aqui é que os santos têm as mãos e faces em madeira mas as vestes são de pano e os cabelos são naturais, geralmente doados por alguém em cumprimento a uma promessa. Na sacristia, uma Arcaz  de 8,5 metros e 20 gavetões em jacarandá e um lavabo em pedra sabão esculpido por Aleijadinho. Como a Igreja da Conceição (onde estão os restos mortais do Aleijadinho) está fechada, as obras dele foram trazidas para a igreja de S. Francisco e pudemos vê-las lá.







Dali fomos à Igreja de Sta. Efigênia, construída pelos escravos para poderem realizar seus cultos religiosos. Tem um altar bem trabalhado e folheado e ouro. Mais adiante a Capela do Pe. Faria, que embora simples por fora é bastante rica por dentro, com forte influencia de arte chinesa.
A próxima foi a Igreja de N. Sra. do Pilar, a mais rica de todas – cerca de 400 kg de ouro na douração. Tem 300 anos e ainda funciona normalmente. Sua nave central é ampla e possui uma espécie de camarote na parte superior, funcionando como um teatro. É impressionante a  sua beleza. Os altares laterais são ricamente trabalhados em madeira, policromada e dourada. O teto pintado. O altar centra é majestoso.
É impossível fugir à comparação com as igrejas da Europa. Enquanto por lá se vê muito mármore, por aqui tudo é madeira, algumas até com pintura marmorizada. O trabalho de escultura é muito mais rico e detalhado do que o mármore.
No entanto, pecamos quanto à infraestrutura e a facilidade de informação para o turista, com a falta de folhetos, brochuras, audioguias etc... e não temos a explicação necessária para entender toda a simbologia da arte ali colocada.
Por fim, a Igreja do Rosário dos pretos, a mais simples, mas também muito imponente. A sua construção  tem forma arredondada.
Embora não tenha ouro, os altares são policrômicos, com peças esculpidas, e os santos são negros.
Acabamos o dia visitando o Museu da Inconfidência. Um prédio muito imponente de frente para a praça,  que abriga os restos mortais dos inconfidentes, conta a história do movimento, conta também a história de Ouro Preto e mostra peças de moveis, louças, arte sacra etc... contando a evolução dos costumes. Muito bem organizado. Lá dentro tem o Mausoléu dos Inconfidentes. Recordamos um pouco a nossa história...
Andando pelas ruas também vimos outra marca da cidade – as repúblicas dos estudantes com seus nomes interessantes: Maracangalha, Cantinho do Céu, Muvuca, Alcatéia, Sem Destino, Calabouço.... até nos depararmos com “Saudades da mamãe”....
Adorei a visita a Ouro Preto – uma cidade bastante pitoresca, com muita história para contar. Poderia ser ainda melhor se  a infraestrutura turística fosse aperfeiçoada com sinalização na rua indicando as atrações, se no Posto de Informações Turística oferecessem um mapa mostrando os locais (tivemos que comprar; depois nos deram um na Casa de Ópera!!!), dessem brochuras falando de onde comer, o que fazer, descrevessem as atrações etc... Mas, já é muito bom que haja uma preservação do nosso patrimônio histórico e artístico.